terça-feira, 25 de junho de 2024

A Morte de Donald Sutherland

A Morte de Donald Sutherland
Morreu o ator Donald Sutherland. Mais um talento que se vai. Eu sempre gostei do trabalho dele, sempre achei muito digno, mesmo quando fazia filmes ruins e de baixo orçamento, algo que não estava à altura de seu status. Mas é a tal coisa, as pessoas esquecem que ser ator é como uma profissão qualquer. Algumas vezes há bom material para se trabalhar, outras vezes não! São coisas da vida. E a única certeza da vida é a morte, infelizmente. 

Pois bem, no começo eu sempre o associei à sua imagem um tanto esquisitona. Era um tipo alto, magro, com um rosto fora dos padrões. Tinha até mesmo cara de gaiato. Talvez por isso o Diretor Robert Altman o tenha escalado para atuar em MASH. Depois do sucesso de crítica desse filme bem alternativo a carreira dele aconteceu em Hollywood. 

Mas engana-se quem pensa que aconteceu com ele virando um astro. Talvez por causa de sua aparência fora mesmo dos padrões de beleza de Hollywood, nessa indústria que preza sempre justamente nisso em um profissional, ele nunca se tornou um grande astro. Pelo contrário, virou um coadjuvante de luxo, algumas vezes estrelando um filme B aqui e acolá. E assim fez sua vida, com toda dignidade, não raro roubando os filmes em que aparecia no segundo plano.

Depois da idade madura ele passou a interpretar vilões mais velhos, sim, velhos, mas com ar de respeitabilidade, embora ele nunca perdesse aquele jeitão de esquisito dele. Personagens como o velho malucão perverso era com ele mesmo. O Donald Sutherland foi bem isso. Quem o via em qualquer fime, fosse bons ou ruim, jamais o esquecia. E durante muitos anos ele foi aquele tipo de ator em que as pessoas perguntavam: como era o nome dele mesmo? Não faz diferença, ele sempre será lembrado por seu talento, que é o que conta no final de tudo. 

Pablo Aluísio. 

domingo, 23 de junho de 2024

Ed Wood

Alguns filmes soam como maravilhosas declarações de amor ao cinema. Um dos mais famosos nesse sentido é Ed Wood, uma homenagem a todos que amam a sétima arte. Ao contar a história do diretor Ed Wood (1924 - 1978) o cineasta Tim Burton realizou sua mais sincera ode à arte que todos adoramos. Ed Wood era realmente um sujeito sem o menor talento para dirigir qualquer coisa mas sua paixão pelo cinema, seu entusiasmo absoluto pelos filmes que realizava e sua visão pessoal de que era um grande filmmaker fez toda a diferença do mundo no final das contas. Atualmente considerado o "pior diretor de todos os tempos" (um título mais carinhoso do que aparenta ser) Wood acabou criando com sua filmografia uma legião de fãs que o idolatram justamente por isso, por ser ruim demais, ruim a um ponto de acabar se tornando bom, por mais absurdo que isso possa parecer. Tim Burton nesse que é um de seus momentos mais felizes na carreira acertou em cheio ao resolver contar a curiosa história de Ed e o resultado é realmente excelente. Além de ter dirigido verdadeiras pérolas, Wood ainda chamava atenção por sua personalidade um tanto diferente. Só para citar um exemplo ele adorava se vestir de mulher, fato que deu origem a uma de suas "obras primas", o estranho, para dizer o mínimo, "Glen or Glenda". De fato o sujeito não era nada comum.

Outro aspecto que chama atenção no filme é a presença do ator Bela Lugosi na trama. De fato no final da vida, pobre, abandonado e viciado em drogas, o grande ator do passado estava arruinado completamente, tanto na vida como na carreira. Foi nesse momento que Ed Wood resolveu lhe ajudar, o escalando para uma série de fitas de terror trash que trouxe ao velho Lugosi um mínimo de dignidade que ainda lhe restava. Esse ponto do enredo é dos mais humanos que já vi em filmes recentes. Burton lida com carinho seu personagem, dando a Martin Landau (que interpreta Lugosi no filme) o papel de sua vida, tanto que foi vencedor do Oscar de Melhor Ator Coadjuvante. Um reconhecimento que em minha opinião premiou não apenas Landau mas também Lugosi pois foi uma forma encontrada pela Academia de homenagear esse grande nome do passado que morreu esquecido e abandonado, infelizmente. Outra sábia decisão de Burton foi filmar tudo em uma linda fotografia preto e branco. O clima  de algo antigo nos remete de forma imediata aos grandes anos do cinema clássico quando Lugosi era ídolo dos fãs de filmes de suspense e terror. Em suma, Ed Wood é um belo poema de amor ao cinema. Um filme muito lírico que soube como poucos resgatar a "genialidade" de Ed Wood, que sendo o pior diretor de todos os tempos ou não, conseguiu entrar na história do cinema de  uma forma muito especial.

Ed Wood (Ed Wood, Estados Unidos, 1994) Direção: Tim Burton / Roteiro: Scott Alexander, Larry Karaszewski / Elenco: Johnny Depp, Martin Landau, Sarah Jessica Parker, Patricia Arquette, Jeffrey Jones, Vincent D'Onofrio / Sinopse: Ed Wood (Johnny Depp), um diretor obtuso, resolve reunir um grupo de estranhos atores e um veterano consagrado mas decadente para filmar uma nova obra prima que em sua opinião vai revolucionar para sempre a sétima arte!

Pablo Aluísio.

sábado, 22 de junho de 2024

A Casa da Rússia

Alguns filmes são literalmente atropelados pela história. Um exemplo claro disso aconteceu com esse “A Casa da Rússia” que foi lançado no mesmo ano em que o Muro de Berlim caiu! Como adaptação de uma típica novela da Guerra Fria, com todos aqueles espiões russos retratados como vilões e malvados, o filme entrou em cartaz justamente no momento histórico em que tudo isso estava mudando de forma radical. A Perestroika e a Glasnost sob o comando do premier Mikhail Gorbachev simplesmente colocaram abaixo o antigo regime que era a essência do bloco soviético e do Pacto de Varsóvia. Assim a Rússia sempre vista como o “Império do Mal” deixou de ter essa conotação tão maniqueísta. Como conseqüência o filme também perdeu sua razão de existência, se tornando ultrapassado, anacrônico, fora de moda. E isso tudo aconteceu em questão de semanas. John Le Carré, o autor do livro no qual o filme foi baseado, que praticamente só escrevia sobre espiões da Guerra Fria, de repente se tornou um dinossauro ideológico. “A Casa da Rússia” hoje soa muito curioso pois capta todos aqueles valores que estavam na ordem do dia na época em que o mundo era basicamente dividido em dois grandes blocos, o dos países ocidentais capitalistas e o dos países comunistas orientais liderados pela temida União das Repúblicas Socialistas Soviéticas. Claro que hoje em dia isso tudo ficou para trás e só existe nos livros de história, mas mesmo assim é muito interessante acompanhar a mentalidade que predominava naqueles anos de grande tensão entre as potências mundiais.

A trama gira em torno de uma série de dossiês cujos conteúdos revelam terríveis planos do governo comunista de Moscou em relação aos Estados Unidos. Os textos foram escritos por um renomado cientista soviético de codinome Dante (Klaus Maria Brandauer, amigo pessoal de Sean Connery e incluído no elenco atendendo a seu pedido pessoal). Katya (Michelle Pfeiffer) é uma amiga de Dante que é designado por esse para levar os dossiês até o Ocidente. Sua intenção é revelar os planos do governo russo para assim impedir que uma catástrofe mundial ocorra entre as nações. Katya assim tenta passar os documentos para um famoso editor britânico chamado Barley (Sean Connery). Convencido pelo serviço secreto inglês, Barley então é enviado até Moscou para colocar as mãos nos dossiês ao mesmo tempo em tentará descobrir quem realmente é Dante. De quebra deverá se certificar se os documentos são verdadeiros ou não, uma vez que táticas de contra espionagem eram muito comuns na época. Como se pode perceber “A Casa da Rússia” é um típico filme de espionagem da Guerra Fria. É muito curioso ver Sean Connery nesse tipo de filme, uma vez que ele tentava se afastar de seu personagem mais famoso, justamente o espião 007.  Apesar de seu personagem não ser um espião aos moldes do anterior a trama cheia de reviravoltas, planos e espionagem lembrava bastante os livros de Ian Fleming. Mais interessante ainda é saber que ele fez o filme logo após sua premiação de Melhor Ator por “Os Intocáveis” que de certa forma coroavam esses novos rumos trilhados em sua carreira, ao se distanciar da franquia que o tornou famoso. O filme acabou não dando certo nas bilheterias pelas razões já expostas. Um famoso crítico americano inclusive denominou a produção de “um fantasma da guerra fria”. Assim foi um dos últimos de uma grande série de películas que mostravam o eterno conflito entre União Soviética e Estados Unidos. O mundo definitivamente havia mudado e para melhor e não havia mais espaço para esse tipo de roteiro. Não havia outra conclusão, o filme “A Casa da Rússia” havia sido literalmente atropelado pela história.  

A Casa da Rússia (The Russia House, Estados Unidos, 1989) Direção: Fred Schepisi / Roteiro: Tom Stoppard baseado na obra de John Le Carré /  Elenco: Sean Connery, Michelle Pfeiffer, Roy Scheider, Klus Maria Brandauer, James Fox, John Mahoney, Michael Kitchen, J.T. Walsh, Ken Russell. / Sinopse: Uma série de arquivos contendo um complexo dossiê revela segredos do governo russo durante a Guerra Fria. Para tentar colocar as mãos neles o serviço secreto britânico envia um editor até Moscou onde ele acaba se vendo envolvido numa grande conspiração de espionagem.

Pablo Aluísio.

domingo, 16 de junho de 2024

Os Exageros em Relação a The Bear

Os Exageros em Relação a The Bear
Terminei de assistir às duas primeiras temporadas de The Bear. Gostei do que vi, são bons episódios, bons roteiros e um bom elenco. Até aí tudo bem. O que não consigo entender é o deslumbramento da crítica norte-americana em relação a essa série. Os elogios são exagerados demais. Outro dia cheguei a ler uma paragrafo inacreditável de um jornalista de Boston afirmando que era a melhor série jamais feita! O que se passa na mente de um sujeito como esse?

Talvez o segredo de seu sucesso de crítica tenha sido o formato. A série não é uma sitcom, mas tem episódios com a duração desse tipo de programa com pouco mais de 30 minutos. Isso faz com que o espectador nunca fique cansado ou entediado. Por aí se vê que se a série tivesse a média maior de duração, como nas séries dramáticas em geral, não haveria tantos elogios descabelados pela frente...

E a história contada também é bem simples. Um jovem chef de cozinha, que estava indo muito bem na carreira, trabalhando em grandes restaurantes de Nova Iorque, acaba tendo que voltar para sua cidade natal Chicago após a morte do irmão. Ele provavelmente se envolveu com as pessoas erradas pois era viciado em drogas. 

Então o chef decide levantar o pequeno restaurante do irmão morto. O problema é que ele estava trabalhando em lugares finos de Nova Iorque e aquele pequeno restaurante do brother não passa de uma espelunca que serve sanduíches e hot-dogs para os moradores da região. E aí está o centro da dramaticidade da série. Nada mais, nada menos do que isso. Uma história interessante sim, mas nenhuma oitava maravilha do mundo!

Pablo Aluísio. 

sexta-feira, 7 de junho de 2024

Questão de Honra

A disciplina militar tem sua própria lógica que muitas vezes não faz o menor sentido fora do ambiente de caserna. Esse é o pano de fundo de "Questão de Honra", uma grande produção da década de 90 que conseguiu reunir três astros em ascensão na época, Jack Nicholson, Tom Cruise e Demi Moore. Depois do relativo fracasso de "Um Sonho Distante" Tom Cruise resolveu apostar em um projeto de sucesso garantido. Aqui ele interpreta um jovem advogado das forças armadas americanas que tenta provar um crime militar ocorrido dentro de uma base aonde um jovem soldado supostamente teria sido morto por seus colegas de farda. Para tanto ousa convocar para depor um coronel casca grossa (brilhantemente interpretado por Nicholson). Sua frase durante o depoimento: "You can't handle the truth!" ("Você não suportaria a verdade!") foi considerada uma das mais marcantes da história recente do cinema americano. Nicholson tinha acabado de ganhar uma verdadeira fortuna com o sucesso do primeiro filme de Batman e estava ali para novamente causar sensação. É curioso ver um ator desse quilate dando um verdadeiro baile em Tom Cruise. Verdade seja dita: Cruise não é páreo para Nicholson em cena. Isso fica bem claro na cena final do depoimento do personagem de Jack. Ele simplesmente destrói Cruise e o cospe fora. Simples assim. .

A única peça no elenco que não parece se encaixar é Demi Moore. Complicado acreditar que ela seja digna de alguma patente militar. Vacilante, sem achar o tom certo de seu papel, ele se refugia apenas em sua beleza e tenta não passar vergonha ao lado do elenco brilhante. É certo que o filme poderia ser menos burocrático e ter um corte menos pesado. O diretor Rob Reiner porém costuma ter mão pesada, confundindo longa duração com qualidade. Isso já havia acontecido com "Conta Comigo". A produção aqui sofre dessa mesma falta de ritmo mas a presença de Nicholson consegue superar o mal estar. O saldo final é positivo, apesar de pontuais problemas. "Questão de Honra" fez sucesso e recebeu várias indicações para as principais premiações, inclusive Oscar e Globo de Ouro. Infelizmente não conseguiu ganhar nada de muito significativo mas pelo menos marcou presença nessas competições. Afinal o que vale é competir.

Questão de Honra (A Few Good Men, Estados Unidos, 1992) Direção: Rob Reiner / Roteiro: Aaron Sorkin / Elenco: Tom Cruise, Jack Nicholson, Demi Moore, Kevin Bacon, Kiefer Sutherland / Sinopse: Durante um julgamento militar, defesa e acusação tentam esclarecer fatos ocorridos dentro de uma base militar que ocasionaram a morte de um soldado.

Pablo Aluísio.

domingo, 2 de junho de 2024

Revenge - A Vingança

Título no Brasil: Revenge - A Vingança
Título Original: Revenge
Ano de Produção: 1990
País: Estados Unidos
Estúdio: New World Pictures
Direção: Tony Scott
Roteiro: Jim Harrison
Elenco: Kevin Costner, Anthony Quinn, Madeleine Stowe

Sinopse:
Michael "Jay" Cochran (Kevin Costner) acaba de deixar a Marinha depois de 12 anos de serviço. Ele não está completamente certo sobre o que vai fazer dali em diante. Assim decide ir ver Tiburon Mendez (Anthony Quinn), um poderoso mas sombrio empresário mexicano que talvez lhe tenha algum serviço a oferecer. Chegando lá acaba se surpreendendo pela beleza da mulher de Mendez, o que certamente lhe trará inúmeros problemas futuros já que que Mendez é um homem poderoso, vingativo e muito possessivo, que não tolera traição. 

Comentários:
Esse filme foi rodado antes de "Dança Com Lobos" mas os produtores de forma muito esperta arquivaram a produção e esperaram o lançamento do famoso western de Kevin Costner para só depois jogarem no mercado esse muito mediano "Revenge - A Vingança". Sinceramente não me recordo se esse filme chegou a ser lançado nas salas de cinema brasileiras, o que me lembro com certeza foi de seu lançamento completamente sem repercussão no mercado de vídeo (na época ainda as locadoras trabalhavam com a velha fita VHS). Minha impressão inicial não foi muito boa. O filme é muito árido e não estou me referindo ao fato dele ter sido filmado na fronteira do México com os Estados Unidos, mas sim por ser muito destituído de maiores qualidades cinematográficas. O roteiro é apenas ok e o elenco não me pareceu lá muito empolgado - com exceção do sempre esforçado Anthony Quinn que parecia sempre dar a alma em qualquer personagem que interpretasse. Há uma tentativa de explorar um pouco de ação e cenas mais empolgantes mas são bem poucas e nada memoráveis. O lado romântico do filme também não empolga. Na verdade o filme, sendo bem sincero, cai muitas vezes na monotonia. Um momento morno, bem morno, da filmografia do astro Kevin Costner. 

Pablo Aluísio

sábado, 1 de junho de 2024

Tootsie

Título no Brasil: Tootsie
Título Original: Tootsie
Ano de Produção: 1982
País: Estados Unidos
Estúdio: Columbia Pictures
Direção: Sydney Pollack
Roteiro: Larry Gelbart, Murray Schisgal
Elenco: Dustin Hoffman, Jessica Lange, Teri Garr

Sinopse: 
Michael Dorsey (Dustin Hoffman) é um ator desempregado que decide fazer algo radical para finalmente encontrar um trabalho. Ele inventa uma personagem feminina, Dorothy Michaels, conhecida carinhosamente como Tootsie e cai nas graças da mídia que a transforma em uma sensação de popularidade. E agora, como Dorsey revelará seu grande segredo?

Comentários:
"Ele é Tootsie. Ela é Dustin Hoffman!". Foi essa a frase usada no marketing desse divertido, delicioso e muito bem humorado filme. Dustin Hoffman em excelente atuação causou impacto na época por ter desenvolvido uma brilhante caracterização de uma mulher. Sob forte maquiagem (muito bem feita aliás), Hoffman surpreendeu pelos detalhes que certamente fizeram toda a diferença. Longe da caricatura o ator surpreendeu a todos. O interessante em "Tootsie" porém é que o roteiro não fica apenas apoiado na transformação de Hoffman mas também investe de forma muito talentosa na parte dramática do enredo. É acima de tudo um argumento muito bem escrito, desenvolvido e executado. Outro destaque do elenco vem com Jessica Lange, fazendo muito bem a transição de starlet para atriz séria, reconhecida por seu talento em cena. Seu Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante foi muito merecido. Por fim vale destacar o fato de que "Tootsie" é o filme mais singular da carreira do cineasta Sydney Pollack. Diretor de filmes sérios, de temáticas complexas como, por exemplo, "Três Dias do Condor", ele aqui abriu espaço para o bom humor, a simpatia e o romance. Um marco certamente em sua carreira.

Pablo Aluísio.