domingo, 28 de abril de 2024

Harry Potter e o Cálice de Fogo

Título no Brasil: Harry Potter e o Cálice de Fogo
Título Original: Harry Potter and the Goblet of Fire
Ano de Produção: 2005
País: Estados Unidos
Estúdio: Warner Bros
Direção: Mike Newell
Roteiro: Steve Kloves, baseado na obra de J.K. Rowling
Elenco: Daniel Radcliffe, Emma Watson, Rupert Grint

Sinopse:
Hogwarts se prepara para uma grande competição de bruxos de todas as partes do mundo. Harry Potter (Daniel Radcliffe) está ansioso para participar desse grande evento ao mesmo tempo que precisa se defender mais uma vez da presença maligna e sinistra de seu arquiinimigo Lord Voldemort (Ralph Fiennes) que parece cada vez mais fortalecido e presente pelos corredores escuros e sombrios de sua escola de magia. Filme indicado ao Oscar na categoria Melhor Direção de Arte. 

Comentários:
Quarto filme da franquia milionária baseada nos livros de grande sucesso da autora J.K. Rowling. Esses filmes foram por bastante tempo - mais especificadamente de  2001 a  2011 - um dos alicerces financeiros da indústria do cinema americano. Todo final de ano era certo contar com uma nova parte das aventuras do bruxinho mais famoso da literatura. E nenhum deles deixou a desejar em termos de faturamento nas bilheterias, todos foram enormes sucessos de público e até mesmo, levando em conta as devidas proporções, também de crítica. A verdade é que antes mesmo de chegar nas telas de cinema, Harry Potter já tinha seu público formado. Então era apenas uma questão de se realizar obras cinematográficas bem feitas para arrecadar aquela quantia indecente de dinheiro pelo mundo afora. Além disso temos que reconhecer que a escolha do elenco foi muito feliz pois os garotos do trio central sempre foram muito carismáticos e talentosos (isso apesar de Daniel Radcliffe ter confessado recentemente que sempre teve problemas com bebidas e que muitas vezes ia trabalhar bêbado ou de ressaca). Considero "Harry Potter and the Goblet of Fire" um dos melhores da franquia, com ótimo desenvolvimento e enredo mais cativante do que muitos outros da série. A diversão, para fãs e não fãs também, certamente é garantida.

Pablo Aluísio.

quinta-feira, 25 de abril de 2024

O Último Desejo

Título no Brasil: O Último Desejo
Título Original:  Love Dream
Ano de Lançamento: 1988
País: Estados Unidos
Estúdio: Highlight Film
Direção: Charles Finch
Roteiro: Charles Finch
Elenco: Christopher Lambert, Diane Lane, Francesco Quinn

Sinopse:
Um rockstar que perdeu a alegria de viver e cantar após a morte de seu irmão acaba conhecendo uma estranha mulher que parece ter poderes sobrenaturais. E apesar de tudo ele acaba se apaixonando perdidamente por ela, o que nao deixará de trazer problemas em sua vida pessoal e profissional. 

Comentários:
Esse e um filme que tenta misturar romance com fantasia, não sendo muito bem sucedido nessa mistura. É fraco, tanto que foi lançado apenas em VHS no Brasil, não chegando aos nossos cinemas. E olha que nessa época o Christopher Lambert estava no pique do sucesso, colecionando boas críticas nos jornais. Mas esse filme realmente não deu certo. De bom mesmo para ele apenas o romance que teve com a atriz Diane Lane. Foi algo sério mesmo pois eles acabariam se casando, tendo uma filha chamada Eleonora. E tudo começou no set de filmagens dessa produção. Bom, pelo menos o filme serviu para alguma coisa. 

Pablo Aluísio.

quarta-feira, 24 de abril de 2024

9 1/2 Semanas de Amor

Título no Brasil: 9 1/2 Semanas de Amor
Título Original: Nine 1/2 Weeks
Ano de Produção: 1986
País: Estados Unidos
Estúdio: 20th Century Fox, Metro-Goldwyn-Mayer (MGM)
Direção: Adrian Lyne
Roteiro: Sarah Kernochan, Zalman King
Elenco: Mickey Rourke, Kim Basinger, Margaret Whitton

Sinopse:
Elizabeth (Kim Basinger) conhece casualmente John (Mickey Rourke) e decide se envolver com ele. No fundo ela sabe muito pouco sobre seu parceiro, nenhum detalhe, sobre quem ele é ou o que ele faz, porém se entrega totalmente aos seus jogos sexuais que vão se tornando cada vez mais bem elaborados e sensuais durante as nove semanas e meia que ficam juntos.

Comentários:
Filme que fez muito sucesso e marcou época. Retrata uma paixão que dura exatamente nove semanas e meia de amor, como o próprio título sugere. Sempre achei esse roteiro muito parecido com o clássico erótico "O Último Tango em Paris" pois em ambos temos um casal de amantes que decide viver um romance onde os aspectos periféricos da relação são deixados de lado em prol de um envolvimento puro, sem preocupações sociais ou de status, valorizando apenas a atração física, a pura carne, de forma direta e sem culpas. Os dois personagens sempre resistem em saber mais um sobre o outro justamente por essa razão. O filme utiliza uma linguagem que na época estava muito em voga no mundo da publicidade e de videoclips. Nada mais natural já que o diretor Adrian Lyne vinha justamente desse mundo. O roteiro, temos que admitir, é bem minimalista, não procurando desenvolver muito os dois personagens principais. No caso aqui a forma foi bem mais trabalhada do que o conteúdo. Para algo assim funcionar era necessário ter o elenco certo e Lyne conseguiu isso unindo Mickey Rourke (ainda em plena forma, na sua fase galã) com Kim Basinger, que era considerada símbolo sexual. Revisto hoje em dia muitos aspectos de linguagem e produção mostram sinais de envelhecimento, o velho charme e sensualidade porém ainda estão lá.

Pablo Aluísio.

domingo, 21 de abril de 2024

Sr. Turner

Título no Brasil: Sr. Turner
Título Original: Mr. Turner
Ano de Produção: 2014
País: Inglaterra, França, Alemanha
Estúdio: Film4, Focus International (FFI)
Direção: Mike Leigh
Roteiro: Mike Leigh
Elenco: Timothy Spall, Paul Jesson, Dorothy Atkinson
  
Sinopse:
Mr. Turner (Timothy Spall) retorna para a casa paterna após passar alguns anos fora, percorrendo a Inglaterra em busca de paisagens maravilhosas para suas pinturas. De volta ao antigo lar ele reencontra seu velho pai já um tanto abalado pelo peso da idade. Ele mantém um desarrumado atelier em sua própria casa, onde vende os quadros do filho. Esse acaba descobrindo surpreso que para o amor não há mesmo tempo e nem idade. Mesmo cinquentão acaba se apaixonando por uma viúva que mantém uma antiga hospedaria no cais do porto. Teria ainda tempo de viver finalmente uma relação amorosa realmente gratificante em sua vida? Filme indicado ao Oscar nas categorias de Melhor Fotografia (Dick Pope), Melhor Figurino (Jacqueline Durran), Melhor Trilha Sonora Incidental (Gary Yershon) e Melhor Design de Produção (Suzie Davies e Charlotte Watts).

Comentários:
Belo filme de época enfocando a vida do pintor inglês J.M.W. Turner (1775 - 1851). O interessante desse roteiro é que ele mostra Turner em um momento já crepuscular de sua vida, quando foi abalado pela morte de seu querido pai. Ele próprio havia se transformado em um velho ranzinza e mal humorado que tinha que lidar com vários problemas profissionais e pessoais. Embora fosse um artista respeitado em seu tempo suas obras começaram a sofrer críticas por causa do uso considerado ultrapassado de cores e formas em seus quadros. Especialista em Marinhas (pinturas que mostravam barcos históricos em momentos marcantes da história britânica), Turner começava a entender que seu talento estava cada vez mais se tornando coisa do passado. Para piorar sua vida pessoal era uma grande bagunça emocional. Pai de duas filhas que mal chegou a conhecer, ele tinha que lidar com a mãe das garotas, uma senhora de modos rudes e violentos, com personalidade dramática e propensa a dar escândalos públicos. Quando tudo parecia caminhar fora dos trilhos Turner acaba conhecendo casualmente uma viúva, dona de uma modesta hospedaria, que acaba aceitando seus tímidos e relutantes galanteios.

O cineasta Mike Leigh mostra o tempo todo que tem grande carinho por Turner, mas sabiamente não procura esconder seus pequenos e grandes defeitos. O roteiro aliás é sofisticado o suficiente para explorar a grande contradição existente entre o modo de ser de Turner, muitas vezes rude e sem classe alguma, com a beleza imortal de sua arte. Nem é necessário salientar também que o filme é visualmente muito bonito, com planos que muitas vezes procuram imitar até mesmo o senso estético das obras de arte desse grande pintor. A trilha sonora também é outro deleite, com várias peças de música erudita. A duração que poderá soar até excessiva para alguns passa despercebida por causa do enredo cativante e sereno. Não é um filme para quem tem pressa, pelo contrário, é uma obra cinematográfica de contemplação e esse aspecto é sem dúvida alguma seu maior mérito. "Mr. Turner" mostra acima de tudo que o cinema de bom gosto ainda não morreu.

Pablo Aluísio.

Beleza Roubada

Título no Brasil: Beleza Roubada
Título Original: Stealing Beauty
Ano de Produção: 1996
País:  Itália / França / Reino Unido
Estúdio: Fiction Films, France 2 Cinéma
Direção: Bernardo Bertolucci
Roteiro: Bernardo Bertolucci, Susan Minot
Elenco: Liv Tyler, Jeremy Irons, Jason Flemying, Stefania Sandrelli, Rachel Weisz.

Sinopse:
Lucy Harmon (Liv Tyler) é uma jovem americana que decide ir até a Itália para descansar, reencontrar velhos amigos e repensar sua vida. Sua mãe havia se suicidado e ela procura entender o que de fato teria acontecido. A paz e a tranquilidade da Europa podem lhe trazer todas as respostas. Além disso ela pretende na viagem à Toscana descobrir a identidade de seu pai biológico, há muito desconhecido. A bucólica região acabará lhe trazendo novas perspectivas, com alegrias, novos amores e reflexões sobre si mesma.

Comentários:
O filme mais leve e despretensioso do grande cineasta Bernardo Bertolucci. Aqui ele deixa a complexidade torturada de alguns de seus personagens de filmes anteriores para mostrar a bucólica realidade de uma garota que está em busca do amor de sua vida enquanto passeia numa Itália dos sonhos. Essa produção transformou Liv Tyler na musa dos filmes cults, muito embora tenha chamado a atenção inicialmente em sua carreira em diversos videoclips ao estilo MTV. Em termos de elenco porém quem rouba os holofotes é realmente Jeremy Irons que está soberbo em cada cena. Um grande ator em um filme menor. A Toscana nunca foi tão linda e solar! Mesmo assim acho um filme bem mediano que exagera na linguagem e no ritmo europeu de fazer cinema. No fundo a estória criada por Bernardo Bertolucci não é grande coisa e ele próprio parece deslumbrado com a presença de Liv Tyler em seu filme. Por certo estava apaixonado! Infelizmente nada disso transparece para a tela e Beleza Roubada logo se torna cansativo. Pois é, até beleza demais cansa em excesso.

Pablo Aluísio.

sábado, 20 de abril de 2024

A Caçada ao Outubro Vermelho

Durante a Guerra Fria dois impérios disputaram a hegemonia mundial. De um lado os Estados Unidos, líder do mundo ocidental, empunhando a bandeira do capitalismo e do livre mercado. No outro a União Soviética, líder dos países do bloco comunista que defendia o modelo de Estado autoritário, centralizador e dono de todos os meios de produção. Essa guerra ideológica obviamente foi transposta também para o campo militar. Americanos e soviéticos entraram em uma terrível corrida armamentista onde a busca pelas armas nucleares mais modernas acabou se tornando política oficial de Estado. E entre esse vasto arsenal nuclear se destacavam os submarinos nucleares, capazes de cruzarem os oceanos para atacar os países inimigos com rara precisão. Tanto Estados Unidos como União Soviética construíram incríveis máquinas como essas e a luta por uma delas é justamente o centro da trama desse excelente “A Caçada ao Outubro Vermelho”. A trama se passa em 1984 quando o capitão Marko Ramius (Sean Connery) do submarino soviético “Outubro Vermelho” decide sem justificativa aparente desviar a rota de navegação para os Estados Unidos. Isso obviamente traria enorme repercussão tanto do lado do comando soviético, que não havia autorizado tal manobra, como do lado americano, pois afinal de contas ter em plena guerra fria um submarino nuclear inimigo em rota de colisão com seu país era no mínimo temerário.

“Caçada ao Outubro Vermelho” se destaca pelo excelente roteiro que joga o tempo todo com as reais intenções do capitão soviético e os efeitos que surgem de sua decisão inesperada. Afinal qual seria seu real objetivo: Uma deserção ou um ataque insano ao capitalismo americano? Sean Connery está perfeito em sua caracterização de militar premiado e veterano que começa a pensar por conta própria sem se importar com as conseqüências de seus atos impensados. Na época de seu lançamento o filme também despertou debate sobre o perigo de um conflito nuclear por acidente. Afinal até que ponto os governos de Estados Unidos e União Soviética tinham efetivo controle sobre seu espetacular arsenal de guerra? O desespero causado em razão  de um submarino nuclear sem controle das autoridades soviéticas refletia bem isso. O curioso de tudo é que o perigo persiste até os dias atuais. Depois do fim da guerra fria com o desmoronamento do bloco soviético a antes incrível armada daquele país entrou em completo colapso. O que se vê hoje em dia na Rússia é um total sucateamento de armas e artefatos de guerra que apodrecem literalmente nos cais do país. Recentemente vi uma reportagem sobre o estado atual da Marinha russa. Submarinos como esse mostrado no filme nem conseguem mais ir para o alto mar por falta de verbas. O orgulho da outrora esquadra vermelha nunca esteve tão em baixa. Quem diria que um dia esse arsenal tenha sido tão respeitado e temido pelo ocidente? De qualquer modo fica a dica: “A Caçada ao Outubro Vermelho”, um excelente filme de suspense e guerra que realmente consegue mexer muito bem com os nervos do espectador. Não deixe de assistir.

A Caçada ao Outubro Vermelho (The Hunt for Red October, Estados Unidos, 1989) Direção:  John McTiernan / Roteiro: Larry Ferguson, Donald Stewart / Elenco: Sean Connery, Alec Baldwin, Scott Glenn, Sam Neill, James Earl Jones / Sinopse: A trama se passa em 1984 quando o capitão Marko Ramius (Sean Connery) do submarino soviético “Outubro Vermelho” decide sem justificativa aparente desviar a rota de navegação para os Estados Unidos. Seria um ato de deserção do oficial soviético ou uma impensada e insana manobra de ataque contra a América?

Pablo Aluísio.

sexta-feira, 19 de abril de 2024

Indochina

Título no Brasil: Indochina
Título Original: Indochine
Ano de Produção: 1992
País: França
Estúdio: Paradis Films
Direção: Régis Wargnier
Roteiro: Erik Orsenna, Louis Gardel
Elenco: Catherine Deneuve, Vincent Perez, Linh Dan Pham, Jean Yanne, Dominique Blanc, Henri Marteau

Sinopse:
A história do filme se passa em 1930. Éliane (Catherine Deneuve) é uma francesa, dona de terras na Indochina. Ela decide adotar uma criança da região e se apaixona por um oficial da marinha francesa. Sua vida, que parecia ir tão bem, logo é abalada por movimentos de separação de nativos que querem a independência da França. Filme vencedor do Oscar na categoria de melhor filme estrangeiro.

Comentários:
Antes dos Estados Unidos afundarem na guerra do Vietnã, a França já havia se dado mal naquela mesma região. O nome colonial daquele lugar no sudeste asiático era Indochina, uma palavra que significava literalmente "abaixo da China", algo aliás bem correto do ponto de vista da geografia mundial. Pois bem, esse filme conta a história de uma rica proprietária de terras, de nacionalidade francesa, que após prosperar com seus negócios vê o seu mundo desabar quando o povo local decide colocar um basta no sistema colonial francês. É a velha luta da colônia tentando sua independência da metrópole europeia e exploradora. Um capítulo que se repetiu em diversas partes do mundo. Um movimento natural de todas as nações que lutaram e buscaram sua independência política. O filme usa a história da protagonista para mostrar, sob um ponto de vista individual, tudo o que aconteceu na Indochina a partir da década de 1930. Aliás muitos países daquela região (como o Vietnã, o Laos, o Camboja, a Birmânia, etc) iriam vivenciar anos e anos de guerra até finalmente alcançarem sua tão sonhada liberdade. E essa caprichada produção, premiada com o Oscar, conta muito bem todo esse contexto histórico de mudança e revolução. É um belo filme histórico com nuances de romantismo literário.

Pablo Aluísio.

segunda-feira, 15 de abril de 2024

Hamburger Hill

Título no Brasil: Hamburger Hill
Título Original: Hamburger Hill
Ano de Produção: 1987
País: Estados Unidos
Estúdio: RKO Pictures
Direção: John Irvin
Roteiro: James Carabatsos
Elenco: Anthony Barrile, Michael Boatman, Don Cheadle

Sinopse: 
Durante a guerra do Vietnã um grupo de soldados americanos fica encurralado numa colina no meio da selva mas a defendem com valentia. Depois de sofrer mais de 70% de baixas os militares são surpreendidos pelas novas ordens recebidas por seus superiores. Um espelho da insanidade de um dos conflitos mais sangrentos da história americana.

Comentários:
Mais uma produção do ciclo do Vietnã que legou ao cinema algumas clássicos como 'Platoon', 'Nascido Para Matar' e 'Nascido em 4 de Julho', todos grandes filmes daquela época. Esse aqui é bem menos conhecido e de certa forma foi ofuscado pelos demais. O bom é que narra um fato real, uma colina onde muitos americanos morreram. Na época um soldado resumiu a situação afirmando que o inimigo havia feito 'hamburguer' com seu pelotão! O clima mais cru ajuda a apreciação do filme mas de fato não consegue ter o mesmo impacto ou a mesma qualidade dos melhores filmes dessa fase do cinema americano. Na vida real as tropas americanas fizeram um tremendo sacrifício para tomar o Hamburguer Hill (o morro onde eles estavam virando Hamburguer, literalmente) para depois abandonar o local sem mais nem menos por ordens superiores. Os que morreram, morreram em vão... Anos depois a colina virou o símbolo da falta de direção do comando americano na guerra. Não havia foco e nem sentido em muitos dos confrontos. Um fato histórico muito marcante e interessante. Já o filme é apenas mediano mas dá para assistir sem problemas.

Pablo Aluísio.

domingo, 14 de abril de 2024

Nascido em 4 de Julho

O EUA é uma nação que foi forjada na violência e no capitalismo selvagem. Em essência esses são os verdadeiros pilares da América. Nessa engrenagem o complexo industrial militar norte-americano sempre deve ser suprido por guerras e conflitos, façam sentido ou não. A Guerra do Vietnã é um exemplo claro disso. Um aparato militar jamais visto foi deslocado para um pobre país asiático sem importância em uma matança sem sentido. Jovens na flor da idade foram para aquela nação que nunca tinham nem ouvido falar para morrerem em suas selvas. Quem ganhou com o envolvimento dos EUA no Vietnã? Obviamente que não foram esses soldados. Quem lucrou realmente com essa barbaridade foi justamente o complexo militar da nação Ianque. Guerras são caras e alguém sempre lucra com elas, não se engane. Fortunas foram feitas com o sangue alheio. Violência e capitalismo, eis o segredo da existência desse conflito. Violência e capitalismo, eis o DNA da alma norte-americana. Nada mais, nada menos. Nesse ínterim o ser humano se torna peça descartável, sem a menor importância. Uma estatística, um número qualquer na mesa de algum burocrata. O indivíduo perde toda a sua importância. "Nascido em 4 de Julho" dá voz a uma dessas peças sem importância no tabuleiro da guerra capitalista. Em um roteiro excepcional acompanhamos a transformação de um jovem que ousou tentar de alguma forma lutar contra essa situação. O filme é sobre ele, Ron Kovic (Tom Cruise), que se tornou paralítico aos vinte e um anos de idade após levar um tiro durante uma batalha numa praia do Vietnã. Sua vida, seus pensamentos, seus conflitos internos, tudo ecoa na tela com raro brilhantismo.

Oliver Stone, ele próprio um veterano da Guerra do Vietnã, já havia revisitado esse conflito no premiado "Platoon". O diferencial de "Nascido em 4 de Julho" para o filme anterior é que nesse acompanhamos os efeitos da guerra, as consequências. O tema já havia sido retratado no cinema antes em "Espíritos Indômitos" com Marlon Brando. O enfoque é sobre os soldados que voltam da guerra mutilados, feridos, estraçalhados emocionalmente. As bandeiras, as medalhas e os uniformes militares diante dessa situação perdem totalmente a relevância. O que fica é um dos efeitos mais cruéis desse tipo de luta armada. Homens jovens, incapazes de viverem em sua plenitude, condenados a uma cadeira de rodas pelo resto de suas vidas e o pior por um evento histórico sem qualquer sentido ou justificativa. Stone foi muito feliz nessa direção que na minha opinião foi a melhor de sua carreira. O enredo socialmente relevante faz pensar, desperta consciências. Filmes devem existir não apenas para entreter mas também para conscientizar. Nesse aspecto "Nascido em 4 de Julho" é uma obra prima do cinema americano.

Nascido em 4 de Julho (Born on the Fourth of July, Estados Unidos, 1989) Direção: Oliver Stone / Roteiro: Oliver Stone baseado no livro de Ron Kovic / Elenco: Tom Cruise, Willem Dafoe, Tom Berenger, Kyra Sedgwick / Sinopse: Ron Kovic (Tom Cruise) é um jovem americano que se alista voluntariamente no corpo de fuzileiros navais durante a Guerra do Vietnã. Ele tem convicção que deve lutar pelo seu país contra o chamado avanço comunista. Durante a guerra sua tropa é emboscada e Kovic leva um tiro que o torna paralítico pelo resto de sua vida. O filme é sobre sua luta pelo fim da guerra do Vietnã após retornar do sudoeste asiático.

Pablo Aluísio.

domingo, 7 de abril de 2024

Campo dos Sonhos

Kevin Costner já era um astro consagrado por causa do enorme sucesso de “Os Intocáveis” quando chegou aos cinemas esse “Campo dos Sonhos”. É curioso porque a trama do filme se utiliza de um dos maiores símbolos da cultura americana, o beisebol, e Costner naquele período era apontado como ele próprio um símbolo dos velhos ideais da América. Não era à toa que ele era considerado o “novo Gary Cooper”. Unir Costner com sua imagem de bom moço e símbolo do American Way of Life com o Beisebol, esporte maior da nação, foi mais do que providencial. A trama se apóia em um argumento de realismo fantástico onde Costner interpreta um fazendeiro com dificuldades financeiras chamado Ray que certo dia tem uma visão onde surge uma voz que lhe diz para construir um campo de beisebol em seu milharal. Estaria ele enlouquecendo? Contra tudo e contra todos Ray (Costner) decide então construir o tal campo de beisebol pois algo lhe diz que uma vez construído os antigos ídolos do esporte voltarão para aquela que seria sua última partida! Heróis do passado, ídolos há muito falecidos, retornarão para um jogo final de despedida. Surreal? Espiritualista? Sensorial? Simples loucura? Bom, tudo isso se pode dizer sobre filme, no mínimo. É aquele tipo de estória que o espectador tem que aceitar e embarcar nela, caso contrário o filme em si não fará o menor sentido.

Como era de se esperar a produção não despertou o menor interesse no público brasileiro por causa de seu tema muito americano. Filmes sobre esportes como beisebol ou futebol americano e outros que o brasileiro médio desconhece ou ignora geralmente não fazem sucesso por aqui. É de se lamentar já que “Campo dos Sonhos” apesar de ter como pano de fundo o esporte não gira apenas em torno dele, pelo contrário, o roteiro na realidade centra seu foco na realização dos sonhos de cada pessoa, individualmente. O personagem de Kevin Costner nada mais é do que uma alegoria representativa da capacidade de cada pessoa em sonhar e tornar esses sonhos uma realidade. O livro em que o filme foi inspirado, escrito pelo autor W.P. Kinsella é exatamente sobre isso. O personagem principal da estória nada mais é do que um alter ego do escritor que queria apenas escrever uma fábula sobre os sonhos de cada um, por mais impossíveis ou improváveis que eles sejam. A produção tem bom gosto e requinte e Costner tem no elenco de apoio grandes atores, entre eles um inspirado James Earl Jones e um jovem Ray Liotta como um dos jogadores de beisebol que chegam do além para uma partida final no milharal ou como o próprio nome do filme diz, no campo dos sonhos. E o que dizer da presença mais do que digna do veterano Burt Lancaster? Simplesmente maravilhoso. Esse filme é assim um bom e lírico passeio pelos ideais mais caros ao povo americano – as terras de cultivo do meio oeste, o beisebol, os valores de persistência e luta e por fim a concretização dos sonhos de infância. Um retrato amigável e simpático do homem comum daquele país. “Campo dos Sonhos” é de fato louvação à alma dos Estados Unidos como nação. Assista sem receios.

Campo dos Sonhos (Field of Dreams, Estados Unidos, 1989) Direção: Phil Alden Robinson / Roteiro: Phil Alden Robinson baseado no livro escrito por W.P. Kinsella / Elenco: Kevin Costner, James Earl Jones, Ray Liotta,  Amy Madigan, Burt Lancaster / Sinopse: Fazendeiro do meio oeste americano recebe através de um visão o desejo de construir um campo de beisebol no milharal de sua fazenda. Mesmo em dificuldades financeiras ele resolve transformar esse sonho em realidade para que antigos ídolos do esporte possam voltar pela última vez para um jogo final de despedida.

Pablo Aluísio.